quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Peter Tosh - Biografia

Esse vale a pena ler!

Infância

Winston Hubert McIntosh, filho de Alvira Coke e James McIntosh, nasceu em Grange Hill, no lado oeste da Jamaica, em 19 de outubro de 1944. Seu pai nunca viveu com a família e na verdade Peter nunca pôs os olhos nele antes dos dez anos de idade. Quando começou a ir para a escola, sua tia, Loretta Campbell, cuidava dele durante a semana. Nos fins-de-semana ele ia para casa com sua mãe. Nestes primeiros anos, a música era uma constante. "Eu nasci na música" - ele dizia. "Desde a época em que aprendi a falar e a trocar pensamentos verbais, eu pude cantar". Embora tenha se tornado conhecido pela pureza de sua voz de barítono, ele também era mestre nas notas mais altas, começando "na escola de domingo, em um coral, tocando piano. Se precisassem de alguém que segurasse uma nota alta e ninguém a alcançasse, eu alcançaria. Era sempre eu e a performace, o recital, a ação".
Aos dez, Tosh estava estudando piano, cortesia da tia Loretta. Logo depois, ele aprendia a tocar violão, simplesmente olhando um fazendeiro local que tocava horas a fio. Em um dia, o jovem Tosh já sabia vários acordes. "A música foi um conceito nascido em mim, então em qualquer hora em que eu sentava e relaxava sempre pensava ou tocava música ou escrevia música".
Aos quinze, ele abandonou o ambiente rústico do oeste pela tentação da cidade grande, Kingston. "Tudo que levei foi minha pequena mala, algo para comer no caminho e eu mesmo, com Jah no coração".

The Wailin' Wailers

Em Kingston, ele conheceu dois jovens chamados Nesta Robert Marley e Neville O'Reilly Livingstone, que tinham sonhos musicais similares. Eles uniram forças com vários outros cantores aspirantes da área de Trech Town, composta por conjuntos habitacionais e barracos, que deu abrigo para estes camaradas ambiciosos mas sem contatos.
Joe Higgs, um homem mais velho que sentiu o gosto do sucesso no final dos anos 50 e início dos anos 60, tornou-se o tutor destes jovens esperançosos. Bob, Peter e Neville (que depois ficou conhecido como Bunny Wailer), ganharam a companhia de Junior Braithwaite e duas jovens moças, Beverly Kelso e Cherry Green. Estes eram os Wailers originais.
Higgs se recorda dos dias de formação dos Wailin' Wailers : "Antes de tudo, Peter veio do campo, enquanto nós vivíamos em Trench Town. Ele tinha alguns familiares que faziam armários e também costumavam vender suco, foi assim na primeira vez que o vi. Ele me foi apresentado por Bob Marley, porque ele queria formar um novo grupo. Eles praticaram e se tornaram perfeitos."
No final de 1963, Higgs sentiu que o grupo era capaz de segurar as necessidades rigorosas da cena fonográfica jamaicana. Os recém-nomeados Wailers se apresentaram em uma audição para Clement "Coxson" Dodd, produtor/promotor e dono da fábrica de sucessos à la Motown chamada de Studio One. Na noite seguinte já estavam no estúdio gravando "Simmer Down". O seu primeiro lançamento foi imediatamente para o primeiro lugar entre os sucessos da ilha, e pelos próximos dois anos e meio eles nunca saíram das paradas. "Por meses os Wailers tiveram um, dois, três, cinco e sete músicas nas 100 mais da [estação de rádio jamaicana] RJR", contou Tosh. "Por todo este tempo ganhei 3 libras por semana".
"Uma vez eu estava cantando no teatro Ward, com os Wailers. Bem, comecei a cantar, e cara!, começou a cair dinheiro no palco. Puf! Bem do meu lado. Puf! Vi moedas de dois e seis centavos passarem zunindo pela minha cabeça e todas essas coisas. Centenas! Eu poderia dizer que não faria isso, mas parei de cantar e comecei a catar as moedas. Você sabe quanto eu catei? Catei dois bolsos cheios! Então enchi os dois bolsos, mas antes de sair do palco, me imploraram para devolver. Cada um na platéia começou a pedir que eu devolvesse. Simplesmente imploraram por tudo! Eles pediram por tudo e eu com os dois bolsos cheios de moedas, yeah man! Essas coisas eram estranhas na hora, mas depois me fizeram rir. Tive algumas experiências fantásticas no palco, mon".
Mas nem tudo foi fantástico. Entre o verão de 1970 e a primavera de 1971, os Wailers entraram em um dos mais fecundos, embora frustrantes e financeiramente mal-remunerados períodos de gravação. O produtor era o pequeno e frenético Lee "Scratch" Perry, que foi o responsável por mais de quatro dúzias de faixas, que renderam três álbuns para a gravadora inglesa Trojan, mas pelos quais os Wailers nunca foram pagos. Muitos críticos consideram estas sessões como o melhor trabalho dos Wailers. Foi aqui que o trio começou a trabalhar com Carly e Family Man Barrett, assim como com Glen Adams nos teclados e Alva Lewis na guitarra. "Me lembro que a gente trabalhava por mágica naquele tempo, pois quando fizemos [o álbum] 'Soul Rebel', levamos três horas para gravar", relembra Tosh. "Três horas. Quero dizer gravação ao vivo direto do livro [com as letras e acordes]. E em três horas o álbum estava pronto, pronto ser lançado para o mundo na próxima semana. E isso era mágico, nenhum homem em todo o mundo já havia feito isso, seen. Nenhum grupo no mundo jamais fez isso, quero dizer, gravações perfeitas, em uma tomada, em todas as músicas, com os vocais perfeitos. Yeah man, é um álbum de três horas, seen".
Family Man descreve os tópicos que atraíam a atenção de Tosh: "Na maior parte do tempo ele falava das coisas nos termos dele, desde pequenos problemas até como as coisas eram levadas na Terra, como as coisas eram. E ele também fazia o vocal principal, além de Bunny. Descobri que, diferente das harmonias vocais, o que eles faziam ao redor da voz de Bob era embelezá-la. Sim e quando começamos a tocar com eles (após o grupo ter deixado Perry em 1971), Peter fazia a guitarra solo, Bob a guitarra base, Bunny a percussão, Wya Lindo ficava no órgão e teclados, (meu irmão) Carly na bateria e eu no baixo. Seis de nós, esse era o pacote. O primeiro lugar onde tocamos foi a casa de Danny Sims em Russel Heights".
Um tremendo instrumentista, Tosh era muitas vezes vítima de produtores inescrupulosos que lançavam em disco sessões instrumentais de ensaio sem o seu conhecimento, na maior parte das vezes na Inglaterra, muitas vezes sob o nome de Peter Touch. "Estes são piratas", ele explica. "Por exemplo, eles gravavam algo em fita, ouviam, com o som do órgão nele. Eu ia no estúdio e começava a tocar algo. O cara dizia: 'Isso soa bem, vamos tentar algo'. Acho que era o Scratch. Havia uma faixa chamada 'Green Duck'. Vi os discos em uma loja cinco anos depois". E, claro, nunca recebeu um centavo por este trabalho.
Em 1972, os Wailers assinaram com Chris Blackwell e sua gravadora Island, um movimento sentido pelo grupo como o impulso pelo qual eles haviam lutado arduamente por mais de uma década. Family Man lembra-se da ida para a Island como o objetivo de toda uma vida que foi alcançado. "Nós sonhávamos e esperávamos por um estúdio só nosso para os ensaios, e foi, cara, que bênção foi quando entramos pela primeira vez na Island House, no número 56 da Hope Road. Comecei a preparar o lugar para ser um estúdio, com alguns gravadores de rolo, gravadores de cassete e ali fazíamos as 'jams' e os ensaios. Na maior parte do tempo nos sentíamos bem ali, a gente cozinhava e fazia sucos por ali mesmo". Ali os Wailers passariam os últimos dias juntos, na casa que sonharam partilhar por tantos anos.
Para promover o primeiro álbum na Island, Catch a Fire, eles fizeram uma turnê pela Inglaterra no inverno de 1973. "Antes de fazermos a turnê, houve um acordo onde a Island se comprometia a cobrir todas as despesas. Ao invés disso nos foi dito que devíamos a eles 42.000 libras pelas despesas da turnê", reclamava Tosh, "fizemos a excursão e quando acabamos, deixei a Inglaterra com 100 libras no bolso [...] É o 'shitstem' da supremacia branca que promove tudo o que vem do branco e desvaloriza tudo o que vem do negro, seen. E se o negro tem algo de bom nele, tenta fazer o melhor para extrair isso e dar para o branco e fazer com que isso pareça ter vindo do branco. Vejo muito dessa merda e é isso que tentam fazer com o reggae. É bom que o reggae seja uma música espiritual, pois eles vêm tentanto padronizá-la há muito tempo".
No final de 1973, Peter decidiu que havia chegado a hora de se lançar na carreira solo . "Não foi um rompimento, sabe. São apenas três caminhos diferentes, a música indo em três direções diferentes. Foi apenas a minha inspiração que cresceu, minha taça que encheu e transbordou. [...] Nós ainda somos amigos, mas não nos vemos como era de costume porque Bob está muitas milhas distante. Percebi que dez ou doze anos foram desperdiçados e não cheguei a lugar nenhum. Então tenho que me ocupar em me levantar, sacudir a poeira e começar tudo de novo. Não tenho tempo de procurar por Bob porque isso é passado. Estou ocupado em fazer o presente".

Por Roger Steffens autor do livro 'Honorary Citizen'

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