Nesta sexta-feira, 6 de fevereiro, o rei do reggae completaria 64 anos
Bob ainda adolescente em Trenchtown
Numa pausa das risadas, Bob Marley ficou subitamente sério. “Eu vou morrer aos 33 anos, idade de Cristo”, disse aos amigos com quem se refrescava sob a sombra de uma árvore, em Nine Miles, interior da Jamaica. Todos se entreolharam assustados, aquilo não era normal. Muito menos vindo de um adolescente, com 14 anos recém-completados. Na Jamaica, soava mais estranho ainda: dificilmente um jamaicano fala em morte. No rastafarianismo, segunda religião mais popular na ilha (atrás do protestantismo), até Deus é vivo.Marley passou perto: morreu de câncer aos 36 anos de idade. Há quem diga que esta fala – reproduzida na biografia oficial, “Queimando Tudo”, de Timothy White – seja um indício da vocação auto-infligida a salvador da humanidade. Se Marley, tal qual os Beatles, é comparável a Cristo, não cabe discutir. Mas que seu legado cultural, religioso, político e – claro – musical tem peso incomparável, isso tem. Desde que Bob Marley morreu, suas ideias cresceram, dominaram mentes de novas gerações, renderam devoção quase religiosa de gente tão diversa quanto Mano Brown, Paul McCartney e Stevie Wonder.Mas, para seguir a linha jamaicana de raciocínio, não é morte o tema desta matéria. O rei do reggae completaria 64 anos nesta sexta-feira, 6 de fevereiro. E se ele estivesse aqui para contar a história dessas seis décadas, certamente a história da música – para não dizer do mundo – seria outra. Em seus últimos dois discos, Bob Marley flertou com caminhos inéditos para sua música e visão política. Em “Survival” (1979), cantou uma África embrutecida por guerras civis, pediu que o mundo olhasse para os pobres e se disse um guerreiro sobrevivente da escravidão. Foi seu álbum mais contundente. Não à toa, a 14 de abril de 1980, Marley foi convidado para tocar na independência da Rodésia que, também não à toa, adotaria o nome “Zimbábue”, título de uma das mais importantes músicas do rasta.
Bob Marley na turnê Kaya, 1978
No seu último disco, “Uprising” (1980), Bob Marley se aproximou musicalmente do pan-africanismo radical de Fela Kuti. Fez um afrobeat (“Could You Be Loved”), ressuscitou o ska, ritmo pioneiro da Jamaica (“Bad Card”) e, pela primeira (e última) vez na vida, gravou uma faixa só com voz e violão (“Redemption Song”). Em um tom melancólico, Marley disse que tudo o que teve na vida foram “sons de liberdade, sons de redenção”. Verdade... Em parte. Marley também teve 11 filhos com oito mulheres diferentes; teve músicas gravadas por artistas do mundo inteiro; teve uma mansão/comunidade em Kingston; teve legiões inacabáveis de seguidores; teve dois discos de platina; foi o primeiro artista do Terceiro Mundo a ser aceito no Hall of Fame do rock; teve dinheiro, fama e sucesso.
Bob Marley em 1979 (Foto: Roger Steffens)
Mas foi um detalhe que transformou o legado de Bob Marley em uma fonte inesgotável de admiração: nem depois de tantas conquistas, ele deixou de ser o rude boy (gíria jamaicana para a juventude do gueto) de Trenchtown. O garoto humilde da favela que pregou o retorno espiritual à África, que denunciou a atualidade da discriminação racial e a vida dura no Terceiro Mundo, com a mesma competência com que cantou o amor, o sexo e a integração racial. Parabéns a Bob Marley que, aos 64 anos, continua jovem e atual. Conheça os discos que Bob Marley gravou em vida:
Catch a Fire (Island Records, 1973)
Burnin’ (Island Records, 1973)
Natty Dread (Island Records, 1974)
Live! (Island Records, 1975)
Rastaman Vibration (Island Records, 1976)
Exodus (Island Records, 1977)
Kaya (Island Records, 1978)
Survival (Island Records, 1979)
Uprising (Island Records, 1980)
fonte:
http://msn.onne.com.br/cultura/materia/7777/anivers-rio-de-bob-marley